🍕Crônica para o Dia da Pizza: a crocância da saudade

Crônica para o Dia da Pizza por Luciana Torreão

Você já teve que se despedir da pizza? Não daquela pizza qualquer, mas da pizza de verdade, com massa macia, borda crocante, queijo derretendo, e aquela sensação de que o mundo para por um instante? Pois é. Eu tive. Em 2018, meu corpo resolveu me dar um susto. Surgiram umas placas vermelhas que ardiam mais do que pimenta malagueta. Resultado: glúten? Nem pensar. Adeus, pizza. E sabe o que é pior? Nenhuma pizza sem glúten chegava nem perto da original. 

Mas não sou de desistir fácil. Ainda naquele ano, na Copa de 2018, com a Seleção na tela e o coração na mão, inventei a minha própria festa: uma pizza sem glúten feita em casa, com tomate, rúcula e a tal esperança de que o sabor ia compensar. Ficou bonita, sim. Até gostosa pra confortar meu estômago e o desejo. Mas, convenhamos, só a beleza não alimenta a alma. Passei anos caçando substitutos. Receitas mirabolantes, misturas estranhas, tudo na tentativa de reencontrar aquele prazer. Nada. Até que, numa dessas aventuras pelo app de delivery, encontrei uma pizzaria que prometia farinha italiana zero glúten.

Pedi. Quando chegou, pensei: vai ser mais um desastre. Mas, para minha surpresa, era fininha, crocante e saborosa. A ponto de enganar até minha irmã, que é cética com essas coisas “sem glúten”. Foi ali que entendi: a pizza não é só massa, molho e queijo. É afeto, é reunião, é desculpa para uma conversa boa, para uma risada descompromissada.

Hoje, no Dia da Pizza, celebro esse retorno. Porque gula, afinal, é desejo. Desejo que, mesmo negado, persiste. Que resiste às privações do corpo e da vida. E que, quando saciado, nos faz redescobrir o que é ser inteiro. A pizza voltou — e com ela, a promessa de novos encontros, novos rituais, novos sabores. Porque o que alimenta não é só o que se come, mas o que se vive.