Que tal um banquete à base de insetos?

A pergunta do título pode parecer que me refiro a algum prato coreano ou chinês. Mas não é não! Apesar de o uso de insetos na alimentação dos humanos já ser uma coisa normal em muitos países, principalmente asiáticos, por aqui a ideia ainda não foi regulamentada, mas já começa a ganhar adeptos no Instituto Federal de Mato Grosso do Sul, em Coxim. O pontapé surgiu a partir de um programa da agência da ONU para Agricultura e Alimentação (FAO), que lançou em 2013, incentivo ao uso de insetos na alimentação. Na ocasião foram destacados cerca de 900 espécies comestíveis.

Causou estranhamento? Para quem não sabe, já há muitos chefs aqui no Brasil, como Alex Atala, e restaurantes com estrela Michelin da França e Inglaterra, entre outros mundo afora,  que preparam pratos altamente gourmets à base de insetos. São sobremesas, pratos principais e petiscos feitos à base deles. São os “snacks” do futuro.

Lá no Mato Grosso do Sul, quem coordena o projeto é o professor, biólogo e agrônomo Ramon de Minas, cujo intuito é explorar o potencial dos insetos na alimentação humana. Ramon diz que a ideia surgiu após ele atuar no controle de insetos na lavoura. E veio justamente depois da resolução da ONU e da FAO que sugere que futuramente o consumo de insetos seja introduzido na nossa alimentação por conter muita proteína e haver uma demanda de alimentos pela população.

E se você, assim como eu, torceu o nariz, e acha tudo isso um tanto bizarro, serve como exemplo, aqui mesmo no Brasil, em cidades do interior, o fato de muita gente comer “bundinha” de tanajura assada. E dizem ser delicioso. Nada contra, mas não me apetece.

Os insetos são mais ricos em proteínas do que as carnes de boi e frango, que costumamos consumir. Só para se ter ideia, a cada 100g há apenas 20g de proteína. Ao contrario, por exemplo, da barata da espécie cinéria, que a cada 100 gramas, contém 60 gramas de proteína. Já o grilo, possui 48g a cada 100g. E sabe mais? Aquele bichinho que dá na farinha, conhecido como o besouro da farinha, chama-se tenébrio (tenebroso, hein?). Segundo consta ele tem um sabor suave. Os especialistas e chefs dizem que há um sabor diferenciado para inseto. E são bastante apetitosos.

Mas calma, gente, não saiam por aqui catando os insetos do jardim pra comer! Para o consumo humano eles são criados em fazendas especializadas e possuem todo cuidado e higiene. Nesta pesquisa mesmo, eles são criados no meio da ração, à base de trigo, milho, vitaminas e minerais. E iguarias (argh!) como a barata, podem custar cerca de R$ 350, pois não há demanda ainda. Se eu nem consigo matar uma, como vou comer?

Para o consumo humano, na cozinha experimental, os bichinhos chegam a ficar 48 horas só tomando água, sem comida. Detox total, né? Mas tem um motivo, é para que todos os excrementos sejam eliminados. Só depois eles são mortos por congelamento e em seguida fervidos e desidratados. Por fim, são triturados e viram farinha e esta é analisada para então ser liberada para o consumo.

Ao ser liberada, a farinha se transforma em pratos como pizza, hambúrguer, patês, bolos e diversas receitas e pratos. Tudo preparado pelos alunos do curso de tecnologia em alimentos. Eles utilizam a massa comum de bolo e enriquecem com a farinha de tenébrio, barata de Madagáscar e grilo triturados. Em alguns pratos, os insetos vão inteiros, por cima do alimento pronto. confesso que não seria nem um pouco tentador.

Os pesquisadores promovem palestras com a comunidade local e colocam os experimentos e receitas para degustação. é um verdadeiro banquete de insetos. Quem comeu aprova e diz que é realmente bom.

Contudo, acredito que para tudo isso cair no gosto popular vai levar muito tempo, pois culturalmente não somos educados para nos alimentarmos de bichinhos que muitas vezes nos causam repulsa. Mas, quem sabe? E você, comeria?

Fonte: Globo Rural